Mergulho nas cavernas sagradas

domingo, 13 de julho de 2008



No céu da Capadócia, é possível sentir-se em contato com a criação divina, em estado de graça. O reporter Edney Silvestre pergunta a um casal da Nova Zelândia o que eles, vindos de um país jovem, sentem ao sobrevoar a Capadócia.

A turista Moraine Baruch responde que é difícil imaginar. Ela acha a paisagem maravilhosa, absolutamente soberba. O marido Rick Hudson diz que só vendo para crer na beleza do local. Para ele, as pessoas precisam fazer este vôo.

A turista americana Betty Boyett, do Texas, que conhece o Brasil, se mostra maravilhada com o que vê na Capadócia. "Não tem comparação com o Brasil, não há nada igual na Terra", afirma ela.

Em cima de um balão, tudo vai além da imaginação. Em terra firme, um mergulho no passado. Para escapar das constantes invasões dos inimigos, os povos da Antiga Capadócia sumiam da face da Terra literalmente. Eles foram cavando túneis e criando cidades a 5, 10, 20 até 55 metros abaixo da superfície terra.

Essa é a mais impressionante das cidades subterrâneas da Capadócia. Era chamada Derinkuyu. Havia uma avenida, ruas, como em uma cidade comum. Havia lojas e estábulos por onde passavam animais e pessoas. Nas cidades subterrâneas, calcula-se que, ao longo dos séculos, viveram 30 mil pessoas.

O local é frio e, para quem é claustrofóbico, é um terror. Mas o que seria pior ou melhor nos longos dias de escuridão? Bem ou mal, foram construídas 40 mil cidades subterrâneas.

Os povos tinham um sistema infalível para impedir a entrada dos inimigos: pedras pesadíssimas que só podiam ser movimentadas por muitos homens e com uso de alavancas. Histórias e lembranças vivas da Capadócia. Herança de orgulho e simpatia.

O tempo das cavernas eternizou os primeiros sinais da humanidade. Por incrível que pareça, havia pessoas que viviam naqueles cogumelos. Eram os místicos. Eles meditavam e acreditavam que, assim, estavam em maior contato com Deus.

São Simão viveu 30 anos em uma caverna. São Daniel também. Enquanto ele meditava, reunia multidões rezando embaixo.

No inicio do cristianismo, a religião era ensinada sem nenhuma orientação especifica. Só no ano 360 dc foi que Basílio da Capadócia criou as regras que deram origem aos monastérios onde, a partir de então, se formaram os religiosos. O monasterio de Keslik é um dos mais antigos da Capadócia e foi inteiramente construído na pedra.

As pinturas da capela, de 1400 anos atrás, foram quase todas destruídas. Ainda é possível ver algumas imagens nas paredes. No teto, entretanto, quase tudo ainda está preservado. O mais impressionante está no chão: tumbas onde eram enterrados os monges.

"Eu acho impressionante esse negócio da caverna. Até porque, eu tenho um pouco de claustrofobia, fico imaginando as pessoas vivendo aqui embaixo. Mas eu fiquei mais impressionada com o conjunto externo do trabalho geológico da natureza", destaca a geóloga Ângela Gama. Ela e o engenheiro José Raimundo são um casal de brasileiros descobrindo a Capadócia, terra de afinidades sagradas.

O santo mais popular e reverenciado do Brasil é da Turquia. São Jorge da Capadócia é o patrono de Portugal, da Inglaterra, do time do Corinthians. Ele é representado como São Jorge matando o dragão da terra da Capadócia. Uma das poucas imagens que sobreviveram a destruição causada pelos iconoclastas, nome que se dá, até hoje, para os destruidores de imagens sagradas.

O poder da fé parece estar impregnado nas rochas, que serviram de casa e templos. É uma aventura interminável Pelas montanhas de pedra e pelos bosques sinuosos, a equipe do Globo Repórter foi procurar a única igreja dedicada a São Jorge, que ainda está de pé.

A busca por São Jorge na Capadócia exige fé e esforço! Depois de uma longa escalada, chega a igreja, que foi construída na pedra, no século XI. Parte da frente desmoronou e, apesar da ação de vândalos, ainda é possível distinguir a imagem do santo guerreiro. Dez séculos depois, mil anos já se passaram e está lá a prova da existência de um povo que inspirou gerações de toda a face da terra, do oriente ao ocidente.

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